
Pela primeira vez na história, as pessoas com 65 anos ou mais superaram em número as crianças menores de cinco anos em todo o mundo e as projeções indicam que o Brasil será, em 2050, o sexto país com maior número de pessoas acima de 60 anos. Estamos preparados para isto?
Preparar as empresas, prestadores de serviços, os governos nos 3 níveis, as organizações e as pessoas para o aumento da expectativa de vida da população é muito importante para a construção de um país economicamente e socialmente próspero, justo e inclusivo.
Os governos devem se concentrar nessas mudanças demográficas porque elas terão um grande impacto nos orçamentos sociais e de saúde. No entanto, o aumento da longevidade abre uma nova gama de oportunidades para empresas que visam esse grupo de consumidores. Os idosos são um mercado em crescimento para novos produtos e serviços. É a chamada economia prateada que cresce ano após ano.
Não é preciso dizer que manter uma boa saúde e viver com independência e qualidade de vida é o objetivo de todo idoso. Apesar disso, atualmente apenas uma pequena porcentagem do mercado geral de saúde e tecnologia da saúde estão preocupados com inovações de apoio para a longevidade.
Existem algumas áreas da economia prateada onde os mercados estão apenas se desenvolvendo, por exemplo, robôs domésticos, vida assistida, transporte inteligente, casas inteligentes, monitoramento de saúde e alguns aplicativos que ajudam nas tarefas diárias, como descritos nos posts: Aplicativos para idosos para período de quarentena do Coronavírus (Covid-19) e o Gerontotecnologia: você ainda vai usar esse negócio.
No entanto, nem sempre é necessária uma tecnologia altamente sofisticada para ajudar os idosos a viver com melhor qualidade de vida. Uma ideia simples pode fazer uma grande diferença para quem quer manter a sua independência e viver com casa. Este aumento da procura de novos serviços, que podem ser completamente diferentes de acordo com as necessidades específicas, impulsionará a economia regional, uma vez que a criação de novos produtos e serviços irá originar novos empregos e novas empresas e aumentar a competitividade nesta área. Este é um setor multifacetado que deve incluir não apenas as empresas de serviços acostumadas a visar públicos mais velhos, mas também novos atores, incluindo uma série de startups. Deve-se notar que a economia prateada é voltada para públicos mais velhos, com uma variedade de estilos de vida, circunstâncias econômicas e sociais e arranjos familiares muito diferentes. Além disso, a economia prateada não deve ser posicionada como um mercado isolado, uma vez que os bens e serviços desenvolvidos podem muitas vezes ser relevantes para outros grupos e gerações. Disciplinas inovadoras como nanociências, biotecnologia, robótica e inteligência artificial poderão lucrar com novas ideias e tornar nossos últimos anos melhores ao mesmo tempo que terá impacto na sociedade como um todo, em termos de empregos, relações humanas, inovação tecnológica e social, tendências nos gastos do consumidor, desenvolvimento regional e muito mais. Porém uma das principais fraquezas das empresas que querem atender a este público é a falta de compreensão dos efeitos geracionais e dos diversos estilos de vida dos idosos.
É, portanto, necessário trabalhar com a geração de prata ao invés de criar uma persona imaginária. Devemos ser cautelosos com os delírios que podem resultar em uma visão excessivamente centrada na tecnologia e que negligencia a capacidade da saúde pública, planos de saúde ou consumidores de pagar estas super inovações. É preciso trabalhar com empatia e “design thinking” para ouvir e coproduzir soluções com os indivíduos que fazem parte desta geração. Não se trata de fazer coisas “para”, mas sim “com”, pessoas que compreendam e vivam esta realidade. É necessário também promover iniciativas que partam dos próprios idosos, pois a criatividade não desaparece quando se chega aos 60 anos.
A adaptação de instalações, bens e serviços para tornar a vida das pessoas melhores à medida que envelhecem torna as coisas mais fáceis para muitos outros setores da população. Criar acesso sem degraus a ônibus, metrô e outros serviços, para facilitar o acesso de idosos também melhora a qualidade de vida de crianças, portadores de deficiência física e usuários de cadeiras de rodas. Essa visão global é apoiada pela Organização Mundial da Saúde por meio de seu projeto Cidades Amigas do Idoso Global, que visa abordar os problemas dos idosos de uma variedade de ângulos, em vez de apenas priorizar questões relacionadas à saúde
A inclusão dos mais velhos na sociedade, as iniciativas preventivas que apoiam o envelhecimento sustentável e agradável e a busca de formas de estimular o envolvimento dos idosos na vida local representam muito mais do que uma abordagem econômica. Elas envolvem a convivência intergeracional e a melhoria de serviços para todos. Muitas soluções são baseadas em sistemas de vigilância remota, alerta ou suporte para pessoas com independência e mobilidade reduzidas. Esses sistemas também fornecem segurança para suas famílias e diminuem a necessidade de cuidadores, que podem ser considerados insuficientes ou com uma carga de trabalho muito grande. Mas ao mesmo tempo, estes sistemas podem ser intrusivos e requerem um componente humano responsivo (família e / ou profissionais) . Outras soluções envolvem cercar o indivíduo com sensores, ou câmeras, para acompanhar e detectar movimentos considerados inadequados ou anormais. A natureza destes dispositivos podem ser estigmatizantes ou até mesmo humilhantes, e devem ser usados com cuidado. Outras soluções, como readequação e substituição de móveis, pisos antiderrapantes e sistemas de iluminação automatizados, parecem ser muito menos intrusivas e muitas vezes podem ajudar o cotidiano.
É importante enfatizar que, embora esses aparatos possam ser usados para complementar a intervenção humana, eles não devem substituir os cuidados humanizados. Nesta era de complexidade e desumanização, nada é mais crucial do que a presença humana, o contato social, o apoio e o cuidado. Isso significa que será necessário treinar, credenciar e apoiar profissionais que atendam em comunidades ou lares de aposentados, que atendam idosos em casa ou que respondam por telefone ou plataformas virtuais. Dessa perspectiva, apoiar e ajudar cuidadores será um grande desafio humano, social e de saúde pública e oferece grandes oportunidades empresariais.
Além das questões relacionadas à saúde e vulnerabilidade, o acesso à informação, seja para fins práticos ou de lazer, exigirá cada vez mais ferramentas de aplicativos móveis, que divulgarão informações e dicas importantes, porém oferecem um risco de alguns idosos e outros grupos serem excluídos, como vimos na dificuldade de muitos acessarem os aplicativos de atendimento à Covid-19.
Outras iniciativas envolvem os chamados “cobots” (robôs colaborativos, humanoides) como uma forma possível de atender às necessidades de monitoramento e proteção dos idosos, criando um ambiente mais aceitável. Estes robôs podem interagir com os indivíduos e ajudá-los a usar suas habilidades cognitivas, como um animal de estimação, por exemplo, enquanto outros são projetados para ajudar as pessoas que vivem sozinhas a manterem vínculos com sua família ou com profissionais de saúde, ressaltando que mesmo sendo uma tecnologia todo-poderosa ela não é capaz de substituir o ser humano.

O potencial da economia prateada deve servir para reforçar uma mudança cultural na imagem preconceituosa do envelhecimento. O envelhecimento está comumente associado à perda das faculdades, que sim, pode acontecer, o tempo atua sobre os seres vivos reduzindo sua capacidade de se adaptar e responder ao meio ambiente. Porém, não devemos esquecer que o envelhecimento também traz ganhos de conhecimento, experiência e generosidade. Os idosos podem permanecer ativos e serem úteis à sociedade; muitos empreendem, sua renda é tributada, eles gastam e podem realizar trabalhos voluntários que economizam dinheiro para o governo e ou contribuírem como conselheiros para empresas. A sua experiência profissional e poder de compra podem contribuir para o crescimento económico e o desenvolvimento do país. Devemos parar de pensar nos idosos como um fardo e aprender a apreciar sua contribuição. Em suma, devemos reconsiderar nossa noção de velhice, reconhecendo que envelhecer pode ser problemático, mas também pode ser uma oportunidade.

Muito bom! O Instituto Mongeral tem se debruçado sobre a adaptação das cidades às demandas dos cidadãos idosos (afinal, não adianta ser ‘smart’ sem ser acessível fisicamente à maior parcela da população). E também precisamos pensar que os futuros velhos já não são mais ignorantes digitais, pelo contrário, vêm de carreiras e rotinas pessoais onde a tecnologia já está plenamente inserida.
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Oi Patricia, realmente o Instituto Mongeral publicou uma pesquisa super interessante; https://institutomongeralaegon.org/longevidade-e-cidades/melhor-cidade-do-brasil-vida-saudavel-idl-2020 . que bom que já temos empresas preocupadas, mas ainda há muito o que fazer. Vamos colaborar!
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