Hoje pela manhã, vi uma cena que pode ser repetida milhões de vezes em qualquer cidade do Brasil. O filho tratando o pai no diminutivo. Parece carinhosos chamar de paizinho, certo? E é. Chamar de mãezinha, paizinho, vozinha, Sr. Luizinho, é carinho.
Agora, usar todas as expressões no diminuitivo, como comer a comidinha, tomar banhinho se sol, sentar na cadeirinha, isto é violência emocional e vem do preconceito que já tratamos algumas vezes aqui : ageismo ou velhismo.

Carinho é cuidar e assistir, é entender que mesmo com dificuldades a pessoa pode exercer sua vontade com autonomia e independência (quando possível). Auxiliar e não fazer por ele. Conversar diretamente com a pessoa e não com o cuidador ou quem o está acompanhando como se fosse um incapaz.
Não permitir que a pessoa idosa realize suas atividades, tome suas decisões, saia de casa , faça suas compras, que seja chamada por qualquer adjetivo pejorativo que não seu nome, é violência emocional.
Este comportamento é repetido em muitas famílias, consultórios, hospitais e por diversos profissionais de saúde. Muitas pessoas tratam os mais idosos, principalmente os mais frágeis, como se fossem crianças grandes impossibilitando que administrem a própria vida e sejam independentes em suas atividades de rotina.
Ao tratar um idoso como uma criança incapaz estamos indo contra o Estatuto do Idoso quando diz “é obrigação da sociedade, família e Instituição assegurar à pessoa idosa a liberdade, o respeito e a dignidade, como pessoa humana e sujeito de direitos civis, políticos, individuais e sociais, garantidos na constituição e nas leis”.
As famílias, empresas, profissionais de saúde, vendedores, precisam quebrar o estigma de que todo idoso é alguém dependente, sem autonomia e que não tem direitos e deveres.
Com o crescimento da população acima dos 60 anos , todos precisam entender que os idosos não estão “com a boca escancarada esperando a morte chegar”, mas que ainda tem muito que viver, aprender e compartilhar com novas gerações.
O chamado mercado da economia prateada, começa a compreender que a inclusão da pessoa idosa promove sentido para sua própria existência; reconhece suas capacidades de trabalho, criatividade e potencialidades.
O idoso necessita sim ser alertado sobre seu atual estado de saúde e suas limitações. A família, empregados ou instituição de moradia e saúde, deverá ficar alerta e lidar de forma madura sobre as situações adversas atuais e o possível agravamento das mesmas.
Se possível, promover atividades estimulantes e até profissionais de acordo com a etapa em que o idoso se encontra. Isto irá trabalhar a cognição, memória, auto estima, melhorando assim sua qualidade de vida.
Entre tantos os fenômenos que rodeiam o idoso, suas alterações relativas à idade, medo real da morte, as diversas perdas de amigos e familiares, podem afetá-lo subjetivamente diminuindo sua capacidade ativa.
Esta falsa forma carinhosa de trata-los pode desenvolver atitudes de culpa, baixa autoestima, isolamento sociais e provocar mais facilmente depressão, perturbações do sono e assim reforçar a dependência.
Por isto, acho que é necessário falarmos sobre esta violência velada, pois na maior parte das vezes, os cuidadores/familiares não percebem como a forma de trata-los, embora não o façam de propósito, acaba machucando a pessoa ao invés de passar seu afeto.
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