Esta semana a mídia tremeu com a notícia de que o discretíssimo ator Keanu Reeves (55) estava namorando… uma mulher da sua idade. Não era bem verdade, afinal a artista Alexandra Grant (46) é nove anos mais nova que ele, apenas usa os cabelos grisalhos (tema de recentes posts nossos aqui); talvez a surpresa maior esteja em finalmente ver um homem 50+ saindo com uma mulher que não tem a metade da idade dele. Por que quase todo mundo se espanta com isso, e mais ainda quando é o contrário, ou seja, uma mulher namorando um homem mais jovem?

Se você procurar o significado de “cougar” (ou puma) fora do reino selvagem, vai encontrar a seguinte definição: uma mulher mais velha que usa as mesmas técnicas sexuais predatórias que os homens, especificamente buscando pessoas do sexo oposto muito mais jovens que ela. Enquanto os homens vivendo relacionamentos com pessoas mais jovens se validam socialmente, onde a mulher funciona como uma espécie de troféu que denota potência, sucesso e “normalidade” cultural, quando se relacionam com mulheres da sua faixa etária são vistos como alguém especial e admirável; e quando escolhem mulheres mais velhas… vixe, muitas vezes são taxados de interesseiros ou enganadores.

O seriado Gold Digger (algo como Caça-Dotes) acaba de estrear na Inglaterra tendo Julia Ormond como uma divorciada rica e mãe de três filhos, que cai de amores por um cara 25 anos mais jovem, vivido por Ben Barnes. Imediatamente todos ficam desconfiados das más intenções dele, especialmente os filhos dela. A autora da história, Marnie Dickens, diz: “Eu quis mostrar o que significa para uma mulher quando ela deixa de ser vista como desejável para o resto da sociedade, porque as pessoas deixam de enxergá-la. A chave da série é o fato de que ele realmente a vê. Isso é grande, porque seu ex-marido só a via como esposa, e seus filhos não conseguem entendê-la como um ser sexual”. Entretanto, como explicar por que a produção roubou no jogo ao escalar uma atriz de 54 anos se passando por 60 e um ator de 38 fingindo ter 35, ou seja, um gap real de apenas 16 anos entre ambos? Seria demais esperar do público que engolisse um enredo onde os personagens esteticamente parecessem ter de fato 25 anos de diferença?
Recentemente o Brasil viveu um incidente diplomático quando o presidente fez um comentário depreciativo sobre a esposa de Emmanuel Macron, 24 anos mais velha que ele. Logo surgiu nas redes sociais a manifestação #desculpabrigitte, desfazendo a ofensa claramente preconceituosa, misógina e chauvinista. A diferença de idade de Trump e Melania é de 23 anos, e não choca ninguém. Diz Macron: “Se eu fosse 20 anos mais velho que a minha mulher, ninguém pensaria por um segundo que eu não poderia ser um parceiro íntimo dela. Há um grande problema com a representação da sociedade e como ela vê o lugar de uma mulher”. Quando se casaram, ele tinha 29 e ela 54, mas já estavam apaixonados desde que ele era um jovem adulto e ela casada e sua professora. Várias vezes foi chamado de homossexual enrustido com um casamento de fachada que servia para fins políticos. Seu antecessor, Nicholas Sarkozy, casou com a modelo-cantora 13 anos mais jovem, Carla Bruni, que se disse atraída por seu “jeito paternal” e protetor. Ninguém achou anormal.

Hugh Jackman (50), o atlético Wolverine, é casado há 23 anos com Deborra-Lee Furness (63), 13 anos mais velha e seguramente uma mulher de auto-estima alta. Quando se conheceram, ela já era famosa e ele apenas um iniciante, mas a química e a afinidade foram inegáveis. Muita gente fala que ela é uma mulher de muita sorte por ter um marido daqueles, mas é Jackman quem se diz sortudo por ter conhecido a esposa antes de alcançar a fama, pois isso o manteve centrado e com um espaço acolhedor para se recolher do assédio. “Acho tão ofensivo – tipo ele deve ser um cara realmente legal porque é casado com uma mulher mais velha? Desculpe! Ele é que deve ser sortudo”, diz Deborra. O casal também foi vítima de boatos de que ele seria gay e teve que negar o fato inúmeras vezes.
Portanto, não apenas as mulheres mais velhas são chamadas de cougars, mas os homens que gostam delas são vistos como caça-dotes, oportunistas ou homossexuais enrustidos.
Estou com 55 anos, meus últimos três relacionamentos duradouros foram com homens mais jovens e já tive um parceiro 15 anos mais novo, que conheci numa festa e depois se tornou um querido amigo. Mais por preconceito meu do que dele, nossa afinidade era inegável nas longas conversas que tínhamos e o carinho com que nos tratávamos, mas com certeza o olhar da sociedade pesou.
Para além da diferença de idade, o que realmente importa é o alinhamento dos projetos de vida. Homens e mulheres deveriam tentar se despir dos rótulos culturais e simplesmente viver suas verdades e afetos.