Temos falado bastante aqui no blog que o futuro da agenda de diversidade nas empresas será a intergeracionalidade, ou seja, pessoas de várias gerações trabalhando juntas. Sabemos que as empresas, a maioria para economizar, promoveram uma “juniorização” nas suas equipes nos últimos anos, embora isso também tenha acontecido porque existe o preconceito de que os 40+ estão ultrapassados e dificilmente ajudariam a alcançar a tão desejada inovação.
Vamos ser sinceros: também tem muito maturi por aí que resiste bravamente às novidades. Eu mesma convivo num grupo – todos professores de MBA – onde vários dos meus colegas pouco se atualizam, ainda acham que o aluno usar celular e computador durante suas aulas é sinal de falta de respeito, trazem powerpoints antiquados, pouco ilustrados e lotados de texto, não sabem criar uma URL encurtada ou QR-code para compartilhar conteúdos, aplicam casos de empresas que aconteceram há mais de 10 anos… Tanto que a própria escola criou e tornou OBRIGATÓRIOS para o corpo docente cursos de metodologias ativas de ensino, técnicas de apresentação & comunicação e design thinking. Adivinha… todos eles usando intensamente os meios digitais e gamificação do processo educacional. Ora, os jovens nasceram digitais, navegam por mídias sociais velozes (Twitter, Instagram, Snapchat) e usam direto o Google e YouTube para fazer pesquisas auto-dirigidas, pois amam criar sua própria trilha de aprendizagem.
Pergunta: você tem perfil em quantas/quais redes sociais? Se ainda está atuante no mercado profissional, tem um perfil no Linkedin bem completo e sabe como funcionam os algoritmos da plataforma? Quando posta um evento ou divulga seu trabalho, domina o que fazer para ter bom engajamento e sabe ler os analytics das plataformas, para entender o que está funcionando ou não? Sabe fazer o seu marketing pessoal online, fundamental para criar autoridade e exposição profissional? Pois os executivos e empreendedores que obtêm sucesso hoje são craques em fazer isso.
Muitos aprenderam “na marra”, pois suas empresas estão em profundo processo de transformação digital; outros foram estudar depois de velhos, correr atrás de conhecimento em cursos diversos. No meu caso, tenho a disciplina de sempre frequentar palestras, workshops e assistir webinars de hubs de inovação, como Cubo, InovaBra, Google Campus. Assino newsletters online da McKinsey, Startse ou Medium (que recomendei noutro dia para meu parceiro de negócios Dario Menezes e ele está adorando).
Mas um novo meio de aprendizagem está ganhando força: a MENTORIA REVERSA. É quando o jovem ensina o profissional mais experiente. Essa técnica tem sido adotada em várias empresas, como a Coca-Cola, que criou seu programa em 2015. Dos 20 executivos que se inscreveram, cinco eram VPs. Laiz (26), da área de Marketing, mentorou Rino (50), da área técnica e logística, por 18 meses em reuniões mensais, onde ele levava os temas que gostaria de trabalhar no processo. Capacidade de inovação a partir de um olhar diferente, desenvolvimento de novas competências (como melhorar a comunicação), empatia e feedback sincero (já que não havia relação de chefia entre eles), foram alguns dos ganhos mencionados por Rino.

A Sanofi também tem desde 2017 um processo semelhante, com 27 duplas de millennials mentorando executivos senior. “Queríamos a troca de conhecimento e valores, experiências, além de aumentar a diversidade na empresa”, diz o Diretor de RH, Pedro Pittella. Já na IBM, a mentoria focou num tema específico que naquele momento era importante para a empresa: diversidade & inclusão. Assim, jovens mentores LGBTQ+, afrodescendentes e PCDs ajudaram a aumentar a compreensão e o comprometimento da alta liderança.
Segundo minha colega professora Ana Paula Arbache, da empresa de people analytics Arbache Innovations, “aprender a respeitar o conhecimento dos mais seniores, conhecer como desenvolver inteligência emocional frente a conflitos e situações delicadas e fazer conexões férteis” são alguns dos ganhos dos mais jovens nessa relação. (leia o artigo excelente que ela escreveu sobre Mentoria Ágil e Reversa aqui).

Mas a mentoria reversa não precisa acontecer apenas em programas dentro de empresas. Ela pode funcionar entre vizinhos do bairro, com membros mais jovens da família, ou até em aplicativos de trocas de serviços e conhecimento, como Tem Açúcar, Beliive ou TimeRepublik, todos gratuitos e na base da economia colaborativa.
Da mesma forma que existe o preconceito de que os jovens não teriam a vivência necessária para enfrentar certos desafios, especialmente os que requerem uma visão mais estratégica, as pessoas mais velhas precisam fazer o exercício de mudar o seu modelo mental, aprender a dosar a profundidade e a alta especialização da educação tradicional que receberam, com mais agilidade, criatividade, multidisciplinaridade e ousadia – traços que caracterizam a cultura e a formação das novas gerações.
Essa mistura de jeitos e visões, associada ao respeito pelo diferente, só pode dar um belo resultado para ambos!