Os ativistas prateados

Você já ouviu falar do Extinction Rebellion (XR)? E do Fridays for Future? Para quem não sabe, são os dois movimentos ativistas pelo clima planetário mais badalados do momento. O Fridays foi iniciado por uma garotinha na Suécia, Greta Thunberg, que resolveu – com a concordância dos pais – não ir à escola às sextas-feiras em protesto pela falta de ação dos governos para frear as mudanças climáticas, defendendo os direitos da sua geração. O XR nasceu na Inglaterra e está sendo replicado mundo afora (EUA, Austrália, N.Zelândia), sempre com manifestações pacíficas que fecham locais públicos. Ser preso faz parte do “contrato” de quem quer se juntar a esse movimento. Geralmente essas prisões não dão em nada além de algumas horas na cadeia e uma pequena multa. Esse espírito até rendeu uma obra artística no Festival Glastonbury, que reúne jovens em torno da música: um poster com a foto dos “aprisionáveis”.

Os “aprisionáveis” do XR, poster do Festival Glastonbury (fotos Kristian Buus/The Guardian)

Sempre que vemos manifestações retratadas em anúncios, filmes ou reportagens, os ativistas costumam ser jovens de jeans, com seus megafones e caras-pintadas. Lembramos de estudantes, black-blocks, hippies e jovens negros da periferia. A questão do desenvolvimento sustentável é, desde sua origem, garantir os direitos das futuras gerações, portanto não é de se estranhar que adolescentes como Greta, Malala ou Emma González sejam os rostos-ícone desses movimentos.

Mas espere aí… os cabeças prateadas invadiram a passeata! Nos recentes protestos do XR em Londres, havia vários maturis de 50 e muito mais. Como o fazendeiro orgânico e fundador do movimento, Roger Hallam (52).

Ou Fi Radford (71) que é bibliotecária aposentada e mal chegou ao Oxford Circus e já foi presa, mas pretende continuar protestando.

A ativista em tempo integral Ruth Jarman (56), que já esteve na cadeia 7 vezes, aproveita para rezar enquanto está na cela e acha que a desobediência civil é a única escolha moral possível para proteger o que Deus criou e o futuro dos seus filhos.

A Pastora Sue Parfitt (77) se sente empoderada quando se coloca à mercê do Estado e diz que ao fazer parte do XR percebeu que ser velha é um grande privilégio e é preciso se doar como “aprisionável” na linha de frente, pois recebe sua aposentadoria e não tem emprego nem carreira para se preocupar.

O epidemiologista Tony Goodchild (74) queria testar a lei e se sentiu insultado quando um policial o aconselhou a ir para outro local e assim evitar ser preso, só por ser idoso.

No sentido horário, os ativistas prateados: Fi, Ruth, Sue, Tony, Reggie, Bryn, Cathy e Phil
(fotos: The Guardian/Kristin Buus)

O advogado Reggie Norton (85) chegou a 1:30h da manhã e pichou com spray lavável os vidros do Departamento de Negócios, Energia e Estratégia Industrial, mas o policial que o prendeu o mandou “ir para casa” quando viu sua idade – mais tarde ele recebeu uma multa de aproximadamente R$ 27.000 por danos ao patrimônio, mas depois o processo foi arquivado. Foi chamado de “anarquista perigoso”, mas se considera alguém que está lutando contra um governo alienado.

Cathy Eastburn (52), musicista, chegou aos extremos pelo que acredita: em fevereiro/2019 se colou com supercola no teto de um trem.

O mesmo fez Bryn Raven (75), terapeuta holística, que literalmente se colou num grupo de jovens que bloqueavam o acesso ao Parlamento. A polícia foi gentil e tentou dissolver a cola com acetona, mas ela enrijeceu o corpo e deu uma canseira para eles a levarem ao camburão.

Phil Kingston (83), um ex-policial e assistente social, acredita que é mais difícil ver pessoas idosas engajadas, porque foram criadas numa outra cultura, e os jovens atualmente são mais questionadores – ideia da qual discordo, pois acho que todas as gerações tiveram seus protestos, seja contra racismo, guerra, comunismo, capitalismo, machismo, políticos etc.

O que vemos atualmente é que as passeatas não são mais território dos jovens rebeldes, mas de qualquer cidadão lúcido e comprometido com a causa. Faz sentido, pois se a pessoa já está na terceira carreira (por ex, com um negócio próprio) ou aposentada, ela tem mais tempo livre. Eu fui em várias passeatas políticas nos últimos anos. Vesti minha velha camiseta de torcer pela Copa do Mundo e fui marchar na Av. Paulista com minhas amigas 40/50+. Confesso que a perna fica mega dolorida (principalmente os joelhos) e o sol inclemente é um sufoco.

Mas nada disso arrefece a vontade de se sentir batalhando pelo que se acredita, e (ainda) tentar transformar o futuro em algo melhor para todos nós. E você, é “ativista de sofá” ou também está por aí pelas ruas usando o poder do seu cinza para melhorar o mundo?

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